[Vai leno…] China — Gabriele & Jabbour
Por que eu li esse livro?
O mano é Corinthians, zona leste. Me escreve sobre a China e ainda ganha prêmio de literatura LÁ! Aaaaah… dá licença! O jeito é ler, entender e absorver o que der. Pokas.
Em 2019 foi publicado o livro China — O Socialismo do Século XXI de Elias Jabbour e Alberto Gabriele que analisa a República Popular da China, dita como uma das locomotivas da economia mundial nas últimas décadas.
O ponto da obra: o que é, afinal, o socialismo chinês?
Não é apenas uma análise teórica ou descritiva. Como aponta Carlos Lopes, diretor do jornal Hora do Povo, trata-se também da história de uma luta. Essa luta não se limita ao campo das idéias; ela permeia a realidade concreta de uma China que conseguiu subordinar o capitalismo a um modo de produção socialista.
Os autores chamam a formação social chinesa de socialismo de mercado, um modelo que interage com um mundo ainda dominado pelo capitalismo. No entanto, eles defendem que a China caminha em direção a uma economia de projetamento, onde o planejamento estratégico do Estado substituirá o mercado como núcleo da economia.
Ler essa obra, mesmo com todas as minhas dificuldades e encarando a minha ignorância a cada página, me fez refletir sobre onde estaríamos hoje se tivéssemos seguido o caminho do desenvolvimento “independente”, se tivéssemos nos posicionado como protagonistas pro mundo e não como meros figurantes? Será que estamos a tempo de corrigir nossa rota? Talvez seja hora de dar os primeiros passos…
Não sei o que diria o tio Confúcio, mas sei o que diria Criolo: “ainda há tempo… Se a vida é um jogo, vamo ganhá!”
Importante: este resumo foi feito com apoio de inteligência artificial. Mas não de modo raso e desonesto. Usei primeiro como forma de organizar minhas anotações durante a leitura. Depois na junção dessas anotações com pesquisas complementares e trechos do livro. Piadinhas sem graça, gírias forçadas e rascunho de críticas… aí sim, tudo por minha conta e risco.
A densidade do tema me fez apelar para este tipo de ferramenta, até para ser justo com todo o conhecimento adquirido.
Pra mim cada [Vai leno…] serve como um exercício de memória a longo prazo. Releio sempre que quero e consigo relembrar as partes que mais me marcaram de cada livro.
Pra quem os lê é um auxílio, um guia, um resumo mesmo… nada além disso. Não substitui, nem de longe, encarar a obra na sua forma integral.
“Carai, maluco qué manjá sobre a China antes de sabe sobre o próprio país… aí é osso.”— Algum fdp emocionado
Parte 1: Capitalismo e socialismo como modos de produção
Capítulos 1 e 2
Gabrielle e Jabbour iniciam a obra com uma abordagem esclarecedora sobre as diferentes formas de organização socioeconômica.
O debate teórico sobre o socialismo, desde suas primeiras formulações por Marx e Engels, passando por figuras como Lenin e os líderes chineses, sempre foi carregado de divergências interpretativas e metodológicas.
Nesse sentido, os autores buscam (acertadamente) delimitar de forma precisa o que significa um Estado socialista, uma economia de orientação socialista e formações econômico-sociais socialistas.
Um Estado socialista é aquele em que o governo é controlado por um partido ou grupo que segue princípios socialistas, buscando a eliminação das desigualdades e o controle dos meios de produção pelo coletivo.
Já uma economia de orientação socialista refere-se ao modelo econômico que prioriza o planejamento e o controle estatal, mas que ainda pode coexistir com formas de mercado, como ocorre na China.
Por fim, a formação econômico-social socialista abrange todo o conjunto de instituições, relações sociais e modos de produção que sustentam uma sociedade organizada de forma socialista, buscando substituir gradualmente as estruturas capitalistas.
Essas distinções são importantes para entender como diferentes países podem adotar caminhos variados em direção ao socialismo, sem seguir um único modelo rígido. Foi o que ocorreu na União Soviética, em Cuba, no Vietnã, Laos e também na China. Cada quá com seu cada bum…
Apesar de termos as bases científicas estabelecidas para evitar o rótulo que sempee aparece de “utopia socialista”, há de se evitar tantas comparações entre as experiências que tivemos até aqui.
Cada sociedade tem uma história única e, ao longo do tempo, construiu suas próprias soluções para os desafios de desenvolvimento de seu povo.
Reforçar isso ja de entrada me pareceu uma premissa muito justa dos autores.
O socialismo, ao contrário do capitalismo, busca organizar a economia de forma coletiva, colocando o interesse público acima dos lucros individuais.
Talvez esse seja o principal motivo de tanto preconceito e falta de embasamento crítico de quem critica as teorias científicas de Marx.
Países como o Brasil, que foram forjados na escravização de outros povos, ainda sofrem das heranças e limitações trazidas por este período sombrio de nossa história.
A la Prison Break, teremos de ter fé para sair de algumas prisões estruturais.
No capítulo dois, Gabrielle e Jabbour nos convidam a repensar um dos pilares do pensamento econômico liberal ocidental: o homo economicus.
Esse conceito descreve o ser humano como egoísta e calculista, sempre buscando maximizar seus próprios interesses. Os autores mostram que essa visão é limitada e foi desafiada por disciplinas mais recentes, como a neuroeconomia.
Estudos contemporâneos revelam que os seres humanos não agem apenas por interesse próprio; ao contrário, a cooperação e o altruísmo têm raízes profundas no comportamento humano e na evolução das espécies. As pessoas muitas vezes optam por colaborar, mesmo quando poderiam se beneficiar individualmente. Esses resultados desafiam a ideia de que o sucesso econômico depende única e exclusivamente da competição. Pode parecer pouco e até ingênuo, mas é um cavalo de pau teórico para muitos liberais. Quem tambem é fã de algumas literaturas sabe que a dualidade humana foi, é e sempre estará presente. Faz parte de nossa existência.
Para os autores, o futuro da economia deve incluir a cooperação como uma peça central, mudando a maneira como entendemos o funcionamento das sociedades.
Finalmente, o capítulo discute o conceito de Antropoceno, que é o nome dado à era geológica em que estamos e como as atividades humanas impactam fortemente o planeta. Ailton Krenak também aborda o tema em seus artigos e livros.
Os autores fazem uma ligação entre a degradação ambiental e o modelo econômico atual, argumentando que a cooperação global será necessária para enfrentar os desafios desse novo período.
Enquanto o homo economicus promove a exploração desenfreada dos recursos finitos do nosso planeta, uma nova mentalidade, baseada na cooperação e no planejamento, pode ser a chave para evitar uma crise muito maior.
Capítulos 3 e 4
Olha, vou ser bem sincero: eu não sou nenhum especialista em marxismo, economia ou qualquer coisa do tipo . Sou um admirador curioso, só. Estou no começo do caminho. Entretanto isso não me impede de levantar alguns pontos sobre o que li nestes dois capítulos (alguns mais pra frente eu de fato não posso nem me dar o luxo de opinar, de tão técnicos e avançados).
Apesar de já ter lido e visto o Elias criticando alguns dos "revolucionários" de internet é inegável que alguns destes são mestres em didática e em como conseguem formatar a apresentação das ideias marxistas de forma simples (sem ser simplistas).
Neste capítulo, os autores se propõe a fazer uma revisão teórica sobre alguns dos conceitos mais fundamentais do marxismo: o modo de produção, a formação econômico-social, o valor e o trabalho.
Esses conceitos são o alicerce do pensamento marxista, pois explicam como as sociedades se organizam e como os meios de produção influenciam as relações sociais.
Apesar de trazerem uma explicação detalhada e revisada, o conteúdo, em alguns momentos, peca por uma falta de exemplos simples e práticos que poderiam facilitar a compreensão.
O modo de produção, por exemplo, que define como a sociedade organiza sua produção, como e a quem distribui o excedente produzido, é a base para entender o desenvolvimento das forças produtivas, os meios de produção e o papel da classe trabalhadora.
No entanto, sem exemplos que conectem a teoria à realidade contemporânea, essa explicação pode parecer acadêmica, prolixa e distante.
Outro ponto é a formação econômico-social, que se refere ao conjunto de estruturas e relações sociais que surgem a partir do modo de produção dominante.
Aqui, os autores fazem um esforço para explicar como essas formações evoluíram ao longo do tempo. Esse é um desafio comum entre marxistas: a profundidade das discussões acaba criando uma barreira para aqueles que buscam uma aplicação mais próxima da nossa realidade.
Minha crítica (se é que posso, como um leitor leigo) é que, apesar do esforço em tornar o pensamento marxista mais acessível, Jabbour e Gabriele acabam reproduzindo a tendência de apresentar estruturas binária: agente versus reagente, burguesia versus proletariado, pensamento abstrato versus pensamento oncreto… Essa abordagem dialética, embora válida, às vezes limita a conexão. Rola um excesso de complexidade.
Não é desrespeito não, muito menos descrença na veracidade da luta de classes. É preocupação mesmo.
Falo como alguém que ainda carece de muito aprofundamento sim, mas também como um alguém que sonha em ver coisas como essas serem apresentadas nas escolas públicas do nosso país.
O quarto capítulo continua o mergulho teórico, desta vez focando em como Marx e seus sucessores conceituaram o valor e o trabalho, dois dos pilares do materialismo histórico dialético.
Aqui, o trabalho não é apenas a atividade física ou mental que transforma recursos naturais em produtos; ele também é a fonte do valor. Isso significa que o valor de uma mercadoria está diretamente relacionado à quantidade de trabalho socialmente necessário para produzi-la.
No mundo atual, onde a automação e a inteligência artificial estão transformando a maneira como produzimos, uma atualização dessa discussão seria valiosa.
A teoria do valor, como apresentada, continua a ser uma ferramenta importante para analisar as contradições do capitalismo, especialmente a exploração do trabalho humano.
A discussão sobre trabalho produtivo e improdutivo também é relevante aqui. Marx distingue entre trabalho que gera valor, ou seja, que produz mercadorias que podem ser vendidas, e trabalho que não gera valor diretamente, como serviços.
Jabbour e Gabriele poderiam ter aproveitado a brecha para explorar como o trabalho na era digital, por exemplo, encaixa-se nessa divisão? E os serviços que hoje dominam as economias globais? Como isso tudo funciona na China, nas chamadas BAT (Baidu, Alibaba e Tencent)?
O viés de um mero desenvolvedor de sistemas me diz que faltou… sei lá.
Obs: linguagem é foda, ou atrai ou afasta. Precisamos respeitar todos os níveis de conhecimento, mas sempre buscando atrair aqueles que mais precisam dele.
Capítulo 5
Após a leitura da obra A nova razão do mundo de Dardot e Laval, que coloca a concorrência no centro da discussão sobre o capitalismo, a visão de Jabbour e Gabriele sobre o tema é apresentada de forma mais teórica e sintética.
Os autores recorrem a conceitos clássicos do pensamento marxista, dialogando com referências contemporâneas como Anwar Shaikh, em Capitalismo: Competição, Conflito, Crise, para diferenciar a concorrência real dos chamados equilíbrios turbulentos que permeiam o modelo capitalista.
Na prática, a concorrência real, como descrita por Jabbour e Gabriele, está longe da idealização de um mercado autorregulado e estável. Pelo contrário, a variação de preços e a busca incessante por um equilíbrio entre os diferentes agentes econômicos resultam em ciclos de instabilidade.
Segundo os autores, essas oscilações inevitáveis revelam a insustentabilidade do sistema a longo prazo, culminando nos períodos de crise que caracterizam o capitalismo.
Os autores dedicam ainda uma parte substancial do capítulo à revisão da chamada lei do valor e à abordagem do excedente, fundamentais para entender o movimento econômico no capitalismo e, em certa medida, no socialismo. Aqui, Jabbour e Gabriele oferecem uma definição sintética do que a lei do valor representa e como ela funciona no contexto das formações econômico-sociais modernas.
A lei do valor
A lei do valor, como explicam os autores, é a base que regula a formação de preços, salários e taxas de lucro, bem como a geração de excedentes. Ela é um princípio que permeia tanto o capitalismo quanto o socialismo, sempre em torno das relações monetárias de produção e troca.
No entanto, a maneira como os preços e o excedente são distribuídos e compreendidos pode variar de acordo com as especificidades culturais e econômicas de cada sociedade.
Jabbour e Gabriele ressaltam que a existência de excedente em si não significa, necessariamente, que há exploração de classe, mas que ele é uma medida residual de valor apropriada por quem detém o poder de contratar força de trabalho.
Esse excedente é fundamental para a reprodução simples e ampliada do modo de produção.
Definição sintética da lei do valor
Os autores propõem uma definição mais técnica e mínima da lei do valor:
- Preços: Devem ser entendidos como preços de produção, ou seja, aqueles que incluem não apenas o custo de produção, mas também uma taxa de lucro compatível com o sistema.
- Valor: Refere-se ao valor de troca, a quantidade de trabalho socialmente necessário para produzir uma mercadoria.
- Excedente: É o valor residual apropriado pelo capitalista ou pelo Estado, que pode ser maior ou menor, dependendo da natureza do sistema e das leis locais que regulam a produção e distribuição.
A lei do valor, portanto, opera como uma força reguladora no interior das economias modernas, assegurando que os preços dos bens e serviços estejam em harmonia com o nível de salários reais, a taxa de lucro e as condições tecnológicas predominantes.
A principal função dessa lei, no entanto, não é apenas ajustar o preço, mas garantir a consistência interna e a reprodução do sistema de produção.
Este capítulo, ao trazer essa definição e análise detalhada, contribui para o entendimento da instabilidade intrínseca ao capitalismo, que se manifesta através dos ciclos de crise e da dificuldade em manter equilíbrios duradouros. David Harvey, um importante contribuidor nesta area, explica que o baguio é loko memo.
Jabbour e Gabriele, ao reverem esses conceitos fundamentais, fornecem uma base sólida para discutir as limitações do sistema e sua relação com o socialismo.
Capítulo 6
Neste capítulo, Jabbour e Gabriele apresentam de forma mais acessível os debates teóricos que permeiam a comparação entre capitalismo e socialismo, destacando alguns pontos essenciais que ajudam a compreender as relações entre esses sistemas.
Primeiro, os autores lembram que o socialismo não é uma reinvenção total do sistema econômico, mas sim uma superação do capitalismo, construída a partir de suas contradições. Esse não antagonismo econômico nem sempre é colocado em pauta. Foi a primeira vez que li sobre isso e achei foda, porque quando pensamos na China e nos seus resultados, é aqui o cerne sa questão.
Em vez de iniciar do zero, o socialismo se propõe a resolver as falhas do capitalismo, especialmente em relação à distribuição de riquezas e à justiça social.
Além disso, não há um julgamento moral absoluto, mas uma crítica que oferece proposições de como transformar o sistema existente.
O socialismo, como fase de transição entre o capitalismo e o comunismo, representa uma ponte entre esses dois sistemas, e essa transição pode levar tempo, dependendo do contexto histórico e cultural de cada país.
Uma das maiores críticas que vemos ao conceito socialista é sua aparente utopia, especialmente o comunismo, que seria o estágio final do processo.
O ponto muitas vezes esquecido é que Marx e Engels também eram contra visões utópicas. Eles acreditavam que entendendo e aplicando suas descobertas científicas a superação do Capital poderia ser rápida. Infelizmente a realidade das tentativas de implementação mostrou que esse processo pode ser muito mais longo e complexo que o imaginado pelos seus criadores.
Um ponto central da discussão é a gestão do excedente econômico no socialismo, que se diferencia profundamente do capitalismo. Em vez de ser centralizado apenas no imposto de renda ou nos lucros dos empresários, o excedente gerado pelo trabalho seria redirecionado de maneira mais justa para áreas sociais como saúde e educação.
Os autores propõem um sistema de limitação na acumulação de riqueza por indivíduos, garantindo que o desenvolvimento social seja prioritário, com a riqueza sendo distribuída de maneira mais equilibrada.
Eles também reforçam a distinção entre o trabalho produtivo (que gera mercadorias e valor) e o trabalho improdutivo (como os serviços de segurança, saúde e educação), destacando que, sob o socialismo, o trabalho produtivo deveria ser o grande financiador do trabalho improdutivo. Em outras palavras, o lucro das indústrias e da produção seria utilizado para sustentar e desenvolver serviços públicos essenciais.
Finalmente, os autores explicam que, ao longo do tempo, o socialismo e o capitalismo mostram diferenças gritantes, especialmente na forma como as desigualdades sociais são reduzidas e os direitos são igualados. O planejamento da infraestrutura, tecnologia e qualidade dos serviços públicos também avançam de maneiras contrastantes entre os dois sistemas, sendo que o socialismo busca um desenvolvimento mais justo e equitativo.
Capítulos 7 e 8
Nos últimos capítulos da Parte 1, Jabbour e Gabriele introduzem e aprofundam o conceito de metamodo de produção (MMP).
Trata-se de uma estrutura teórica que vai além do conceito tradicional de modo de produção, propondo uma visão mais ampla.
O metamodo de produção é entendido como um conjunto de elementos-chave que moldam os modos de produção em qualquer sociedade, seja ela capitalista ou socialista, e influenciam sua evolução.
Os autores destacam três premissas básicas que caracterizam o metamodo de produção:
- Prevalência global de um modo de produção — Em qualquer época, há um modo de produção dominante no cenário mundial. Atualmente, esse papel é desempenhado pelo capitalismo.
- Coexistência de modos de produção — Em alguns países, dois ou mais modos de produção coexistem, mas sempre em níveis desiguais de desenvolvimento, estabilidade e progresso. Isso significa que, mesmo sob o capitalismo, elementos de socialismo podem estar presentes, e vice-versa.
- Limitação de liberdade — O grau de liberdade que cada modo de produção desfruta é finito, ou seja, ele está condicionado a fatores externos, como o contexto histórico e político.
No capítulo seguinte, os autores exploram as características fundamentais do metamodo de produção. Eles identificam três pilares principais:
- Relação de mercado e troca — O mercado continua sendo uma força central no desenvolvimento econômico, seja no capitalismo ou no socialismo, mas a forma como essa troca ocorre e quem controla o processo varia.
- Prevalência da lei do valor — Mesmo sob diferentes modos de produção, a lei do valor, que define os preços com base no trabalho necessário para produzir bens, ainda é um fator que influencia a organização econômica.
- Existência de dois macrosetores — O metamodo de produção reconhece a divisão da economia em dois grandes setores: o produtivo, que gera mercadorias e riqueza tangível, e o improdutivo, composto por serviços como educação, saúde e segurança. Sob o socialismo, há uma maior preocupação em como o setor produtivo pode financiar o setor improdutivo, promovendo um equilíbrio entre crescimento econômico e desenvolvimento social.
Jabbour e Gabriele, ao discutirem o socialismo sob o metamodo de produção, indicam que o sucesso de um Estado socialista depende da capacidade de implementar essas premissas de maneira organizada e justa. Além disso, os autores ressaltam a importância de reconhecer que o socialismo não é uma rejeição total do mercado ou da troca, mas uma reorganização dessas forças para servir ao bem comum.
🧠 Resumo do resumo — Parte 1: conclusões e ponderações
A parte 1 oferece uma sólida base teórica para entender o socialismo chinês e as críticas ao capitalismo. Na minha visão leiga poderia ter sido mais eficaz ao integrar exemplos simples e práticos ao construir uma linha narrativa mais fluida entre os capítulos. Isso ajudaria a manter o leitor engajado e a entender melhor como as ideias discutidas se aplicam à realidade contemporânea.
Acertos: iniciar a argumentação com uma revisão do que é o que, reforçar que cada nação tem suas singularidades históricas, trucar o conceito de homo economicus com neuroeconomia, propor uma visão sintética da lei do valor e gestão de excedentes mostrando como estas são a base das crises do capital. O metamodo de produção proposto no final, apesar de um pouco complexo e abstrato nos serve como base para quetar o facho, pisar no freio e sempre buscar ter o os dois pés no chão quando o assunto é economia política e/ou revolução popular.
Complemento abaixo serve para entender um pouco mais da estrutura política da China, da participação ativa da população, do tamanho do PCCh e de como não dá pra querer acelerar nem pular etapas.
Parte 2: A China como a primeira experiência de uma nova classe de formações econômico-sociais
Se ta falano sério? Iih rapaiz… — Fred
Disse que ia muda pra melhor, num tava bom, tava mei ruim também… mas parece que piorou — O doido
Aqui o trem endoida de veiz… segura kkk
Capítulos 9, 10 e 11
Os autores dedicam toda a segunda parte do livro para se aprofundar no que o Ocidente muitas vezes chama de milagre chinês, conceito que, segundo Jabbour e Gabriele, não é nada milagroso.
Ao contrário, o desenvolvimento econômico da China é fruto da aplicação correta de teorias já registradas por autores como Keynes (capitalista utópico?), no campo econômico, Marx e Engels no campo socialista e Ignacio Rangel quanto ao projetamento.
A China, portanto, não criou algo novo do zero, mas soube adaptar conceitos existentes a sua realidade, de maneira sistemática e eficaz.
O Capítulo 9 serve como uma introdução a essa mudança de abordagem na obra. Os autores deixam claro que a segunda metade do livro terá uma linguagem AINDA MAIS técnica e científica, recheada de gráficos e dados para embasar suas análises.
Para leitores menos familiarizados com economia, a graxa vem grossa, espessa kkk…
Essa mudança pode tornar a leitura mais desafiadora, mas demonstra o compromisso dos autores em apresentar uma argumentação rica e detalhada.
O foco se volta para as reformas econômicas iniciadas em 1978, com Deng Xiaoping à frente. Essas reformas foram responsáveis por transformar a China na potência econômica que conhecemos hoje.
No entanto, os autores apontam que o processo de transformação começou muito antes, com a Revolução de 1949 liderada por Mao, que trouxe mudanças estruturais profundas, como a redistribuição de terras.
A agricultura, apontada como um dos principais motores do crescimento chinês, foi a base para o desenvolvimento do país. O grande diferencial, segundo os autores, está na forma como o Estado chinês, ou o Partido Comunista Chinês (PCCh), administra o excedente agrícola.
O governo não se limitou a acumular riqueza para uma elite, mas focou em reinvestir no desenvolvimento interno, combatendo a fome e promovendo avanços tecnológicos, mesmo que isso significasse enfrentar altos custos.
Uma peça fundamental desse processo foram as Township and Village Enterprises (TVEs), que desempenharam um papel crucial nas duas primeiras décadas após as reformas.
Essas empresas comunitárias não capitalistas ajudaram a desenvolver as áreas rurais e funcionavam como um meio de redistribuir a riqueza de forma equitativa dentro do país.
Seguindo o conceito de metamodo de produção, as áreas produtivas da economia geravam excedente, que era então redistribuído de forma planejada para áreas improdutivas, como educação e saúde, promovendo um equilíbrio sustentável e organizado.
No entanto, os autores reconhecem que o processo não foi perfeito.
Além das contradições, como os períodos de fome nos anos seguintes à Revolução de 1949 — conhecidos como Holodomor, o país também enfrentou o desafio da falta de liberdade e autonomia para a massa de trabalhadores rurais.
Através do sistema Hukou, o governo controla a mobilidade dos habitantes, dificultando a migração de pessoas do campo para a cidade, um aspecto importante que ainda gera debate.
O dado que mais impressiona é o crescimento da renda per capita: em duas décadas, a China saltou de uma renda média de US$ 250 para cerca de US$ 8.000, um feito que deixa qualquer crítica ao modelo chinês em xeque. Apesar das dificuldades e contradições, a China conseguiu superar barreiras enormes e se consolidar como uma das maiores potências globais.
Esse conjunto de capítulos oferece uma visão clara e detalhada de como a China transformou sua economia através de um planejamento rigoroso e de um modelo que combina elementos socialistas com um controle estratégico do mercado.
Capítulo 12
Cumprindo a promessa feita na introdução, temos um capítulo recheado de explicações conceituais quanto a evolução das empresas estatais chinesas para os grandes conglomerados comerciais.
Sobre como o Estado chinês orquestra o retorno financeiro advindo destes como forma de investimento tanto para o setor público como para o aperfeiçoamento tecnológico da indústria. Os autores fazem um revisão desta expansão comercial, e aqui é válido trazer alguns trechos / citações que resumem bem:
- sobre o conceito de socialização do investimento de Keynes:
“O Estado terá que exercer uma influencia guia sobre a propensão a consumir parcialmente através de seu esquema de tributação, em parte, talvez, de outras formas (…) Penso, portanto, que uma socialização de investimento um tanto abrangente será o único meio de garantir uma aproximação ao pleno emprego: embora isso não precise excluir todos os tipos de compromissos e dispositivos dos quais a autoridade publica cooperara com a iniciativa privado.” — John Maynard Keynes
- sobre um argumento da China não ser socialista, mas sim capitalista:
“Apesar de uma vasta acumulação de capital privado, a China não esta adotando o capitalismo. Características capitalistas enganosamente familiares escondem os fundamentos profundamente desconhecidos do socialismo de mercado com características chinesas. O PCCh controlando a carreira de todo o alto escalão em todas as agencias reguladoras, todas as empresas estatais (SOEs) e praticamente todas as grandes instituições financeiras estatais.” — Joseph Fan, Randall Morck, and Bernard Yeung.
- e sobre a propriedade publica dos meios de produção e o planejamento do Estado chinês:
“Penso que a maioria dos economistas políticos marxistas concorda com os economistas neoclássicos, assumindo ou aceitando que a China é capitalista. No entanto, não sou um deles. A China não é capitalista. A produção de mercadorias com fins lucrativos, baseada em relações espontâneas de mercado, governa o capitalismo. A taxa de lucro determina os ciclos de investimentos e gera crises econômicas periódicas. Isso não se aplica a China. Na China, a propriedade publica dos meios de produção e o planejamento estatal permanecem dominantes e a base de poder do Partido Comunista esta enraizada na propriedade publica.” — Michael Roberts
Capítulos 13 e 14
Jabbour e Gabriele abordam a transformação econômica da China pós-reformas de 1978, explorando o desenvolvimento do sistema financeiro e a consolidação de sua economia.
Um ponto central desses capítulos é o fortalecimento do sistema financeiro chinês, que se destaca por sua independência em relação ao capital externo. Essa característica foi crucial para a China lidar com crises financeiras globais, como as de 1998 e 2008, sem grandes abalos internos.
Os autores destacam que a robustez do sistema financeiro chinês não se deve apenas à intervenção estatal, mas também à criação de bancos de desenvolvimento, que financiam tanto o setor público quanto o privado.
A China mantém, há décadas, uma taxa de investimento média de 40% sobre o PIB, o que impulsiona a infraestrutura, a inovação e o crescimento econômico sustentável.
Além disso, as reformas permitiram a evolução das empresas estatais em grandes conglomerados e abriram espaço para o capital privado, sem perder de vista o ideal socialista.
Esse processo de modernização foi conduzido pelo Partido Comunista Chinês (PCCh), que adaptou suas políticas para superar os desafios econômicos do capitalismo, mantendo a soberania sobre setores estratégicos.
A economia planificada, segundo Keynes, é um sistema no qual o governo desempenha um papel ativo no controle e direcionamento da economia, especialmente em tempos de crise.
As intervenções governamentais são projetadas para estimular a demanda agregada, garantindo que a economia mantenha o emprego e evite recessões prolongadas.
Um exemplo prático dessa abordagem seria o aumento dos gastos públicos em infraestrutura, como a construção de estradas, hospitais e escolas. Isso não apenas gera empregos, mas também estimula a demanda por bens e serviços.
Além disso, políticas fiscais, como a redução de impostos, podem ser implementadas para aumentar a renda disponível das famílias e empresas, incentivando o consumo e os investimentos.
Essa abordagem busca equilibrar a economia e garantir estabilidade a longo prazo.
O conceito keynesiano de planejamento foi, de fato, aplicado pela China em suas reformas a partir de 1978, transformando sua economia planificada rígida em uma economia socialista de mercado.
As reformas iniciadas por Deng Xiaoping em 1978 foram um ponto de inflexão para a economia chinesa. A transição de uma economia planificada para uma mais orientada pelo mercado foi gradual e cuidadosa, sendo implementada em fases sucessivas ao longo de diferentes governos. Aqui estão exemplos de como esses conceitos foram aplicados ao longo de quatro governos distintos:
- Deng Xiaoping (1978–1992): Deng foi o arquiteto das reformas econômicas da China, permitindo maior participação do setor privado e incentivando a abertura ao comércio internacional. Um exemplo notável foi a criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), como em Shenzhen, que ofereciam incentivos para atrair investimentos estrangeiros. Nessas áreas, foram aplicadas políticas mais flexíveis, resultando no rápido crescimento industrial e comercial da China.
- Jiang Zemin (1993–2003): Durante o governo de Jiang, houve uma consolidação das reformas econômicas. As empresas estatais passaram por reestruturações significativas, com algumas sendo privatizadas ou expostas à competição de mercado. Esse processo permitiu que o setor privado se expandisse, impulsionando ainda mais o crescimento econômico da China.
- Hu Jintao (2003–2013): Hu Jintao focou em reduzir as desigualdades regionais e sociais. Para isso, foram implementadas políticas de desenvolvimento que visavam diminuir a diferença entre as áreas urbanas e rurais. Além disso, a China continuou investindo em infraestrutura, incluindo a construção de redes ferroviárias de alta velocidade, que ligaram melhor as regiões menos desenvolvidas ao centro econômico do país.
- Xi Jinping (2013 — presente): O governo de Xi Jinping tem equilibrado o crescimento econômico com preocupações ambientais e sociais. Sua política externa, representada pela iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” (Belt and Road Initiative), demonstra o esforço chinês em expandir sua influência econômica global, investindo em infraestrutura em países parceiros e promovendo o comércio internacional.
Essas reformas transformaram a China em uma potência global, utilizando o planejamento estatal em conjunto com o mercado. A economia chinesa, que antes era rigidamente planificada, passou a incorporar elementos de mercado, sem abrir mão do controle sobre setores estratégicos, como energia e infraestrutura.
Essa combinação permitiu à China crescer de maneira constante e evitar as crises profundas que afetaram outros países.
O papo é reto, há um reconhecimento real, vívido e pulsante aos representantes que estiverem a frente na nação chinesa.
Capítulos Finais
Nos capítulos finais da parte 2, Jabbour e Gabriele focam em dois elementos-chave do desenvolvimento econômico chinês: a SASAC (State-owned Assets Supervision and Administration Commission) e a economia de projetamento. Ambos são fundamentais para compreender a evolução do socialismo de mercado e o sucesso econômico da China.
A SASAC, criada no início dos anos 2000, desempenha um papel crucial na gestão dos ativos estatais da China. Esse órgão funciona como uma espécie de “ministério” ou “agência”, cuja principal responsabilidade é supervisionar e administrar os ativos das grandes empresas e conglomerados estatais, conhecidos como GCEEs (Grandes Conglomerados Empresariais Estatais).
Os autores destacam que a SASAC é um intermediário importante entre o Estado e o mercado, essencial para entender o modelo de socialismo de mercado. A função dessa comissão vai além da simples supervisão: ela atua como um manager estratégico, garantindo que as empresas estatais sigam as diretrizes do governo, mantendo-se competitivas no mercado global.
Ao longo dos anos, a SASAC foi responsável por uma série de reformas que permitiram que essas empresas estatais se modernizassem, tornassem-se mais eficientes e competitivas. Esse processo é considerado um dos fatores mais importantes no crescimento econômico da China, e um dos responsáveis pela sua capacidade de competir globalmente, principalmente em setores como energia, tecnologia e infraestrutura.
No último capítulo, os autores mergulham no conceito de economia de projetamento, uma ideia que se opõe à financeirização de mercado típica dos modelos capitalistas ocidentais. A economia de projetamento é baseada em planejamento estratégico, com foco em projetos de longo prazo, e não na especulação financeira.
Jabbour e Gabriele conectam esse conceito ao que foi implementado na China após as reformas de 1978, e especialmente após os anos 2000. Eles mencionam o trabalho de Ignacio Rangel, economista brasileiro pouco conhecido, que, entre 1940 e 1960, já defendia a importância de um modelo econômico orientado a projetos. Esse pensamento se reflete fortemente nas políticas chinesas, que priorizam investimentos em infraestrutura, tecnologia e inovação.
Os autores destacam três exemplos marcantes que simbolizam o estágio atual de desenvolvimento da China:
- Liderança nas empresas globais: Nos últimos cinco anos consecutivos, a China tem o maior número de empresas listadas no Forbes Global 500, uma lista das maiores empresas do mundo. Isso reflete a robustez de seus conglomerados estatais e o sucesso do socialismo de mercado.
- Trens de alta velocidade: A China é o primeiro país a implementar uma rede de trens de alta velocidade em escala nacional, simbolizando a capacidade de projetar e executar grandes projetos de infraestrutura, fundamentais para o desenvolvimento interno e o crescimento econômico.
- Made in China 2025: As metas estabelecidas no plano Made in China 2025 colocam o país como uma potência tecnológica global. O plano visa tornar a China líder em setores avançados, como inteligência artificial, robótica e telecomunicações, consolidando sua posição como um dos países mais tecnologicamente avançados do mundo.
Esses exemplos ilustram o sucesso da China em seguir um modelo econômico distinto, baseado em planejamento estratégico e execução de projetos de longo prazo, garantindo um crescimento sustentado e uma forte presença global. A economia de projetamento, assim, emerge como um diferencial essencial do socialismo de mercado chinês, destacando-se como uma alternativa ao modelo financeiro ocidental.
🧠 Resumo do resumo — Parte 2 — Conclusões e ponderações
Na segunda parte do livro, Jabbour e Gabriele exploram profundamente a evolução econômica da China pós-reformas de 1978, desmistificando o chamado “milagre chinês” e mostrando que o sucesso do país é resultado de uma aplicação prática e bem planejada de teorias econômicas, tanto de Keynes quanto de Marx. O que é visto como um milagre pelo ocidente nada mais é do que a combinação estratégica de um modelo de socialismo adaptado ao mercado global, com foco em planejamento de longo prazo e controle estatal sobre setores-chave da economia.
Acertos: a atuação da SASAC, a economia de projetamento de Ignácio Rangel, trazer exemplos do que a China tem de visão a curto e médio prazo.
A partir de reformas contínuas e uma gestão estratégica dos recursos, o país conseguiu superar as dificuldades iniciais e se consolidar como uma potência global, sempre fiel ao seu ideal de planejamento centralizado, sem abrir mão de princípios socialistas em sua essência.
Referências
- [Vídeo] Michael Heinrich — Teoria do valor
- [Vídeo] Live Boitempo — Jabbour, Dilma, Silvio e Chak
- [Vídeo] Dona Rita — Mercado, valor e trabalho
- [Vídeo] Dona Rita — É possível imaginar o fim do capitalismo?
- [Artigo] Educação e desenvolvimento: o encontro entre esperança e progresso
- [Artigo] A mobilidade do trabalho na China: o sistema de registro Hukou
- [Artigo] O “velho” hukou na “nova” China urbana
- [Artigo] Por que a China não tem problema de favelização? O caso do Hukou